terça-feira, 30 de novembro de 2021

Tempo de qualidade

 “Pensa naquela pessoa que já morreu e não está mais aqui conosco. Aquela pessoa que você ama muito e sente muita saudade. Se por alguma mágica você pudesse ter mais 5 minutos com ela. O que você faria?”

Essa é uma fala da Dra Ana Claudia, autora do livro “A morte é um dia que vale a pena viver'' e que traz reflexões sobre a vida e a morte de uma maneira sutil, delicada e cuidadosa.

Respondendo a questão acima, é bem provável que você abraçaria, beijaria, contaria alguma coisa que você viveu, demonstraria amor, cuidado. Você exerceria o que a vida estaria te proporcionando e  aproveitaria esse tempo com essa pessoa, mesmo que pouco, é um tempo que tem valor, um tempo de qualidade. Você não perderia esse tempo como o que não é importante.


Livro: A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes


É curioso que nós não queremos falar sobre a morte, mas queremos ouvir sobre morte porque em algum momento da nossa vida  já passamos por essa experiência com alguém próximo e que se ama. E ter a consciência da morte é angustiante e traz pra nós a urgência de viver o que a gente ainda tem, nos oferecendo uma perspectiva mais apurada sobre como deveríamos viver esta vida.

O que deveria nos assustar não é a morte em si, mas a possibilidade de chegarmos ao fim da vida sem aproveitá-la, de não usarmos nosso tempo da maneira que gostaríamos e em vez de medo e angústia, devemos aceitar nossa essência para que o fim seja apenas o término natural de uma caminhada.


Nosso tempo de qualidade

Dra Ana Cláudia Quintana Arantes é uma médica geriátrica e que cuida de pessoas no final de suas vidas. Ela traz à tona o tema de cuidados paliativos com a experiência do cuidado. Está presente sempre que houver um sofrimento, desde o diagnóstico da doença trazendo qualidade de vida durante o tratamento e transformando esse “Durante” mais feliz. Vivendo o momento presente da forma que se é mais feliz.

Teremos a vida inteira para ter saudade. Precisamos viver uma vida com um tempo de qualidade.


Texto: Maria Fernanda Garcia

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Desandada

 

Eis que, do nada, perto das 23:30 Clarice acorda à noite chorando e reclamando. Fui acudi-la e percebi que estava quente. Peguei o termômetro e, batata, estava com febre. Fazia uns 4 anos que ela não tinha nada, nem um resfriado (bate na madeira). Coloquei ela na minha cama e ficamos lá, nós quatro - porque a Amora não saiu da cama e ainda fez questão de se espreguiçar para garantir seu espaço. Foram quase 24 horas de febre. E da mesma forma que apareceu a febre, ela se foi assim, puf, do nada. Alívio.  

Essas 24 horas foram suficientes para dar uma cambalhota na vida e uma rasteira nos planos. Foi um “soco” tão forte que fizeram vários pratinhos da vida equilibrada e engatilhada caírem. Rolou o dia todo de pijama e de televisão. Macarrão para o almoço que aconteceu no sofá. Cochilada na sala. Mais doce do que devia. 





Essas coisas acontecem realmente para vermos que não temos controle de absolutamente nada e sim uma falsa sensação de controle. E que mesmo nas adversidades nós conseguimos ter forças para fazer o que deve ser feito - as prioridades, relaxar com aquilo que não é tão importante assim e deixar para lá.

As sujeiras dos pratos que caíram serão limpas aos poucos. Com a rotina se estabelecendo devagarinho, passo a passo. Como diz Roberta Ferec “A vida vai continuar desandando. Mas  a maneira como lidamos com tudo isso é que vai fazer dos percalços uma experiência de tormenta ou um aprendizado.” 


Texto: Maria Fernanda Garcia

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Momentos

 Foi um final de semana delicioso onde decidimos turistar pela cidade de Santos. Os escolhidos foram: Museu de pesca e passeio de bonde histórico. Tudo pronto e lá fomos nós!

O museu foi uma delícia. Interativo. Lá vimos peixes e tubarões empalhados, tudo sobre a história da pesca, um esqueleto gigante de baleia e o xodó dela: uma réplica de navio! Ela podia entrar, subir e descer, uma maravilha! Saiu de lá querendo voltar. 

Pausa para o almoço, sorvete e bora andar de bonde! A expectativa de Clarice era alta. Ela pulava e dizia que era sonho dela andar de bonde… Estava eufórica! Depois de acomodados, o bonde buzinou e começou a aventura.


A cara de felicidade antes do passeio... 

O guia turístico foi explicando cada detalhe dos prédios históricos, da importância do café para a cidade, da riqueza, falava, falava e falava. Nós, adultos, estávamos achando super legal, tentando recriar a época que ela descrevia, foi quando olhei para a Clarice e percebi que ela não estava mais tão feliz assim. Ela estava muito brava. Perguntei o que estava acontecendo e ela perguntou: “Quando que ele vai parar de falar para a gente curtir o passeio?” Disse que era assim mesmo. Que ele estava mostrando pra gente como as coisas funcionavam antigamente e explicando na prática o que ela iria aprender nas aulas de História na escola. Mas ela estava irredutível. Eu dizia: “Olha que legal aquela casa em cima da pedra” e ela “Tô com sede” e eu "Tá vendo ali a janela de ferro?” e ela “arrã”.

Não sei o que ela imaginou como seria esse passeio de bonde, mas não foi difícil de entendê-la. Conhecendo-a bem, posso dizer que talvez ela achasse que poderia ir de pé, com vento na cara e os cabelos voando, rindo e falando. Sei lá... Isso não estragou o passeio, porque em dias assim, diferentes da nossa rotina, sempre tomamos uma dose de leveza com um bocado de expectativas baixas e com o olhar atento aos MOMENTOS.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Doce Novembro

Li num post do Instagram que “Novembro é tipo a quinta - feira do ano”. Achei genial e verdadeira. Não sei vocês, mas quinta-feira é para mim, o melhor dia da semana. Tem um ar mais despojado de quem já fez mais da metade do trabalho semanal, onde podemos fazer um happy hour no final do expediente - por aqui sempre rola um vinho ou cerveja - é a semana já com cara de final de semana. Me levanto de manhã feliz às quintas. 


Clarice preocupadíssima e com a boca cheia de pipoca...

Novembro tem cara de urgência. Temos que fazer “caber” nesse mês às demandas atrasadas do ano que se passou. De tentar correr com prazos e listas de coisas a serem feitas. Tentar organizar as tarefas das crianças do próximo ano. Tudo isso em apenas poucas semanas. Mesmo assim estamos felizes e entusiasmados, não é mesmo?! 

É época de montar árvore de Natal, de planejar a comemoração do Ano Novo e das férias. Onde o corre corre é frenético com as confraternizações de final de ano - elas voltaram, aleluia! - Organizar a agenda de eventos com finais de semanas deliciosamente ocupados. Correr com os preparativos para o encontro dos familiares e amigos porque não importa  o que fazemos, mas sim com quem fazemos, com quem passamos os nossos momentos - não temos tempo a perder. É também o momento em que podemos olhar para trás, avaliar o que passou. Comemorar os acertos, aceitar os erros e pensar em como corrigi-los. 

Em novembro já temos aquela sensação de dever cumprido por mais um ano que se passou, com cheirinho de férias de verão no ar, sim! Já começa a fazer calor! (pelo menos deveria né) Que delícia! 

Eu adoro Novembro e você? 

Texto: Maria Fernanda Garcia


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Alma Praieira

Estou com saudades da praia. Do cheiro de maresia, de andar na areia beirando o mar molhando os pés. De sentir o calor do sol no meu rosto. De dar um mergulho. De fazer SUP. Da sensação de vida.


Foto: Natanael Vieira para Unsplash

Moro em São Paulo, mas tenho alma praieira. Moraria fácil em cidade litorânea. Minha família tinha um apartamento no Guarujá, em frente à praia. Lá foi o meu refúgio de verão por 39 anos. Sempre era a primeira da família a chegar e a última a ir embora no final de temporada. Quando pequena lembro de fazer planos de mudarmos pra lá. E sempre ia embora chorando. 

Ninguém nunca entendeu essa minha fissura por estar perto do mar. O lifestyle, a energia, a vibe. Estar no mar é um momento de felicidade incalculável. 

Dizem que as coisas que nos alegraram muito, inevitavelmente se transformam em coisas comuns. E mesmo sabendo disso acho que nunca me acostumaria com esse encanto.

Quando estou lá na praia fico atenta e celebrando cada momento com entrega porque estar ali realmente me faz bem.

Trago esse espírito comigo pra São Paulo e celebro a vida aqui com os meus entes, conquistas e pequenos deleites diários. Mas que meu lugar é na praia, ah isso é!

Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 26 de outubro de 2021

Dar-se um jeito!

 Já ouvi diversas vezes que tenho um ar de desencanada, de que tá sempre tudo bem, sempre “de boas”, tranquila...

De fato me considero bem leve em alguns aspectos da vida onde outras pessoas surtam, mas a verdade é que eu sempre fui regrada, a rainha do planejamento, a que faz roteiros para tudo, a que cronometra o dia, a que tem um planner mensal e semanal colado na geladeira,  a que odeia imprevistos, a que tenta estar no controle de todas as situações da vida. 

Hiking Family


Uma das coisas que aprendi durante esse ano de pandemia e alguns bons anos de terapia, é que temos uma falsa impressão de controle. A gente pode até antecipar cenários, fazer listas de prós e contras, pensar em possíveis consequências, mas saber o que vai acontecer? Ah, isso não sabemos. A vida só acontece. Muitos dos planos não dão certo, muitas certezas absolutas já não são exatamente aquilo que pensávamos e muitos dos imprevistos nos fazem lembrar de que a vida é agora e a gente sempre dá um jeito de fazer acontecer. Mesmo quando tudo sai do SEU controle.  Sem planos, certezas e roteiros.

Estou tentando todo dia ser aquele ser desencanado que as pessoas me veem.

Todo dia.

Um passo de cada vez. 

Meu mantra atual é uma frase do Guimarães Rosa “ A vida é feita de poucas certezas e muitos dar-se um jeito” 

Texto: Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 19 de outubro de 2021

Aprender a Fazer

 “ É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer” Aristóteles

Fui buscar a Clarice na natação e ela estava meio triste, o que me pareceu estranho já que ela ama fazer esportes e ama nadar. Conversando, ela disse que não estava conseguindo virar cambalhota e que precisava aprender até o final do ano para o “Festival de Natação”. Ela pediu que eu a ajudasse, já que quando ainda estava na faculdade, fui professora de natação. Marcamos o dia e descemos para treinar.


Entre um mergulho e outro ela disse que estava com muito medo. Medo de entrar água no nariz, medo de ficar desnorteada embaixo d'água, medo, muito medo. “A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações. Isso é o que caracteriza o medo”

Entendi e acolhi seus sentimentos e em resposta disse que ela não precisava aprender a cambalhota se ela não quisesse. E expliquei que esse é o tipo de coisa que a gente só  aprende a fazer, fazendo, treinando, praticando. Eu podia ficar horas ali dizendo teorias e tentando convencê-la, mas o resultado só virá quando ela conseguir relaxar, “deixar acontecer” e principalmente: se divertir. Ai sim ela será capaz de fazer o que quiser. Estou ao lado dela, mas só depende dela. 

Pode ser que essa cambalhota não aconteça esse ano e tudo bem! Passamos uma tarde deliciosa de brincadeiras, mergulhos, leveza e muita, mas muita água no ouvido.

Texto Maria Fernanda Garcia